Quando Milton Nascimento, cantor recebeu o diagnóstico de demência por corpos de Lewy aos 82 anos, a revelação partiu de seu filho Augusto Nascimento, empresário e cuidador, em entrevista à Revista Piauí na quinta‑feira, 2 de outubro de 2025. O anúncio encerrou meses de especulação desde que, em março de 2025, Augusto contou ao Jornal Nacional que seu pai convivia com Parkinson há dois anos.
Milton Nascimento, ícone da MPB, vinha enfrentando limitações motoras atribuídas ao Parkinson, doença neurodegenerativa que reduz a produção de dopamina e provoca rigidez muscular. Segundo o Dr. Afonso Henrique de Aragão, neurocirurgião da Rede D'Or, os sintomas de Parkinson podem, em alguns casos, evoluir para formas mais complexas de demência, como a demência por corpos de Lewy (DCL).
A DCL representa cerca de 10% dos casos de demência no Brasil e se destaca por combinar déficits cognitivos com flutuações de atenção, alucinações visuais e sintomas motores semelhantes ao Parkinson. "É a segunda causa mais frequente de demência degenerativa depois do Alzheimer", explicou Aragão, ressaltando que ainda há pouca familiaridade do público geral com a doença.
Em maio de 2025, antes da confirmação do diagnóstico, Augusto decidiu aproveitar o tempo que ainda tinha ao lado do pai. "Quando vi que meu pai apresentava uma piora brusca no quadro cognitivo, perguntei ao médico se seria uma loucura fazer uma viagem de motorhome com ele pelos Estados Unidos", recordou em sua entrevista.
A jornada durou 16 dias, percorrendo aproximadamente 4 mil quilômetros. O trajeto incluiu os estados de Arizona, Utah, Idaho, Wyoming e Montana. Augusto dirigia o motorhome enquanto Milton, como de costume, era o copiloto musical, escolhendo álbuns dos Beatles para embalar a estrada.
Embora a viagem tenha sido terapêutica, alguns sinais de confusão começaram a aparecer durante as paradas. “Ele às vezes se perdia nos próprios pensamentos e, ao acordar, não lembrava onde estávamos”, relatou Augusto.
De volta ao Brasil, Milton foi submetido a exames de imagem e avaliação neuropsicológica em um centro especializado de São Paulo. Os resultados mostraram depósitos de alfa‑sinucleína – os chamados corpos de Lewy – espalhados por regiões cerebrais responsáveis pela memória e coordenação motora.
Aragão explicou que os primeiros sinais da DCL incluem flutuações de atenção, alucinações visuais vívidas e rigidez muscular. "A memória, atenção e raciocínio ficam comprometidos, o que torna tarefas simples mais difíceis. Além disso, problemas de equilíbrio aumentam o risco de quedas e as alucinações podem gerar medo e ansiedade", alertou.
Não há cura conhecida para a DCL; o tratamento foca em gerenciar sintomas com medicações antipsicóticas de baixa dosagem, fisioterapia e apoio psicológico. A família decidiu, então, adaptar o ambiente de Milton, reduzindo estímulos que possam desencadear alucinações e priorizando rotinas estáveis.
Augusto Nascimento, como porta‑voz familiar, tem se mostrado bastante aberto à imprensa, na esperança de desmistificar a doença. "Precisamos que o público entenda que a demência por corpos de Lewy não é só esquecimento, mas uma condição que afeta corpo e mente ao mesmo tempo", afirmou.
Além do filho, a esposa de Milton, Marta Lúcia, tem participado ativamente das sessões de terapia ocupacional. O círculo próximo também conta com o apoio da Associação Brasileira de Doença de Parkinson e Demências, que tem disponibilizado materiais educativos e grupos de suporte.
O médico de referência, Dr. Aragão, recomenda que pacientes com DCL evitem ambientes altamente estressantes e mantenham atividades cognitivas moderadas, como audição de músicas familiares – algo que Milton já faz diariamente.
Para os fãs, a notícia traz um misto de tristeza e solidariedade. Muitos artistas já manifestaram apoio nas redes sociais, compartilhando mensagens de carinho e lembrando o legado musical de Milton. "Sua voz continua viva em cada geração", escreveu o cantor Chico César em um tweet.
Do ponto de vista da saúde pública, a revelação de Augusto pode servir como alerta para a importância do diagnóstico precoce das demências atípicas. Estudos recentes da Universidade de São Paulo (USP) apontam que o reconhecimento rápido de DCL pode melhorar a qualidade de vida em até 30%.
Enquanto não há cura, a família de Milton está focada em preservar momentos de alegria, mantendo a rotina musical e as visitas dos netos. "Cada dia que ele acorda e reconhece a gente, já é um presente", concluiu Augusto.
A DCL provoca flutuações de atenção, alucinações visuais e rigidez muscular. Para Milton, isso significa que tarefas simples – como segurar o microfone ou caminhar pelos bastidores – podem se tornar desafiadoras e exigir mais apoio familiar e profissional.
O Parkinson afeta principalmente o controle motor, enquanto a DCL combina sintomas motores com comprometimento cognitivo e alucinações. Ambas compartilham depósitos de alfa‑sinucleína, mas a DCL tem impacto direto na memória e no raciocínio.
Não há cura, mas o manejo inclui medicação antipsicótica de baixa dose, fisioterapia para melhorar mobilidade, terapia ocupacional e apoio psicológico. Centros especializados, como os da Rede D'Or, oferecem protocolos individualizados.
Eles reduziram estímulos que podem gerar alucinações, mantêm rotinas regulares, usam iluminação suave e incluem música familiar como terapia sonora. Também contam com acompanhamento semanal de enfermeiros especializados.
A visibilidade ajuda a desestigmatizar a DCL, incentiva o diagnóstico precoce e mobiliza recursos de saúde para pesquisas e suporte a pacientes. Também gera solidariedade entre fãs e outras famílias afetadas.
Sou especialista em notícias e adoro escrever sobre os acontecimentos diários do Brasil. Meu trabalho é trazer informações relevantes para o público, sempre com uma abordagem objetiva e clara. Trabalho como jornalista há mais de 15 anos e continuo apaixonado pelo que faço. Acredito que a boa informação é essencial para uma sociedade bem informada.
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luciano trapanese
outubro 3, 2025 AT 04:14Vamos apoiar o Augusto e o Milton nesse momento difícil.