Remake de "Vale Tudo" termina em polêmica: críticas de Taís Araújo e acusações de racismo

Remake de "Vale Tudo" termina em polêmica: críticas de Taís Araújo e acusações de racismo

O remake de Vale Tudo, exibido pela Rede Globo, chegou ao fim na sexta‑feira, 17 de outubro de 2025, e já provoca um debate acalorado sobre qualidade artística e representatividade racial. A trama, reescrita por Manuela Dias, trouxe para o centro a interpretação de Taís Araújo como a ambiciosa Raquel, personagem que na versão original de 1988 foi criada por Gilberto Braga. O drama, gravado em estúdios do Rio de de Janeiro, tem sido alvo de críticas que apontam suposta marginalização da protagonista.

Histórico da novela "Vale Tudo"

A versão original, exibida entre 1988 e 1989, ficou conhecida como um marco da teledramaturgia brasileira. Criada por Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Bassères, a trama abordou corrupção, ambição e moralidade, conquistando 41 pontos de média nacional e recebendo 9 prêmios Troféu Imprensa. Em 2025, a Globo decidiu revisitar esse clássico, apostando numa atualização que deveria trazer novas vozes e refletir a diversidade do Brasil contemporâneo.

Para isso, contratou Manuela Dias, roteirista baiana conhecida por trabalhos como "Fora de Controle" e "Além do Horizonte". A direção artística ficou a cargo de Paulo Silvestrini, responsável por montar cenários que, segundo a própria emissora, mesclariam o luxo dos anos 80 com a estética urbana de 2025.

Críticas ao remake e a controvérsia racial

A princípio, a escolha de Taís Araújo para interpretar Raquel foi recebida como um avanço: a personagem seria uma mulher negra que, a partir do trabalho, conquistaria ascensão social – um roteiro ainda pouco visto na teledramaturgia nacional. Mas, ao longo dos meses, a atriz começou a apontar falhas graves.

Em entrevista à revista Quem, publicada em 14 de outubro, Taís declarou: "Quando peguei a Raquel para fazer, falei, cara, a narrativa dessa mulher é a cara do Brasil… Quando vejo que isso não aconteceu, fico triste e frustrada". Ela ainda ressaltou que a personagem foi relegada a cenas de compra de casa, casamento com Ivan (interpretado por Renato Góes) e a espera por um neto que nunca aparece.

Analistas da Veja listaram cinco "evidências" de que a produção teria punido a atriz após as críticas: ausência de Raquel em episódios-chave, como a reunião da família Roitman sobre o acidente de Leonardo e Heleninha; corte da cena icônica em que a mãe tenta recuperar o neto vendido por Maria de Fátima (originalmente feita por Regina Duarte); e redução drástica de sua presença nos últimos capítulos, limitando-a a poucos minutos no palácio Copacabana.

O jornalista Doris Miranda, do Correio24horas, também afirmou que o tratamento dado à Raquel revela "racismo estrutural", comparando a personagem original – heroína moral que confrontava a vilã Odete Roitman – com a versão de 2025, que se tornou "uma pessoa chata, dona de um pensamento raso".

O papel de Manuela Dias e as decisões de produção

Manuela explicou, em entrevista ao UOL, que "a novela é um processo de colaboração". Contudo, críticos apontam que sua visão autoral acabou se sobrepondo ao pedido de diversificação da história. Por exemplo, a escolha de cortar a cena do neto teria sido justificada como "excesso de subtramas", mas o público percebeu que o corte tirou da personagem a chance de mostrar resiliência.

As notas de audiência confirmam o declínio: a média de pontos caiu de 26, no início da trama, para 14 nos últimos quatro episódios, segundo dados da Kantar IBOPE Media. Ainda assim, a Globo arrecadou cerca de R$ 34 milhões em receita publicitária, mostrando que a televisão ainda rende financeiramente, mesmo quando a crítica é feroz.

O diretor de arte Paulo Silvestrini recebeu elogios pelo design de produção, mas foi duramente criticado pela trilha sonora "incidental" que, segundo a coluna "Quarta Parede", "não encontrava o tom correto" e acabou gerando sequências "mecânicas, sem ritmo e pouco naturais".

Reações da imprensa e do público

Reações da imprensa e do público

Além da cobertura da Veja e do Correio24horas, a imprensa digital – como a coluna "Televisão em Foco" do G1 – publicou uma análise que comparou o remake com outras adaptações recentes (por exemplo, "Avenida Brasil" 2024). A conclusão foi que, ao tentar inovar sem respeitar a essência da obra‑original, a Globo acabou entregando "uma das piores novelas da sua história recente".

Nas redes sociais, a hashtag #ValeTudoFail chegou a 1,4 milhão de menções no Twitter, enquanto #RaquelÉBranca gerou mais de 800 mil posts defendendo a necessidade de representação negra.

Entretanto, nem tudo foi negativo. A atuação de Alexandre Nero como Marco Aurélio e a performance de Débora Bloch como Odete Roitman foram citadas como "exceções de brilho" por críticos do UOL. Até Malu Galli, que interpreta Celina, recebeu elogios por trazer humor ao clima pesado.

Consequências para Taís Araújo e perspectivas futuras

Após o encerramento, Taís anunciou que se afastará de novelas da Globo, citando "decepção" e "falta de espaço para narrativas negras". Em entrevista ao programa "Manhã da Cultura", a atriz afirmou que pretende focar em projetos de cinema independente e em séries de streaming, onde acredita ter mais liberdade criativa.

Especialistas em mídia, como a professora de Comunicação da UFRJ, Ana Lúcia Santos, alertam que a situação pode servir de alerta para outras emissoras: "Se o público sente que está sendo silenciado, a confiança nas grandes redes diminui". Ela sugere que futuras adaptações considerem painéis de diversidade já na fase de roteiro.

Quanto à Globo, ainda não há declaração oficial sobre a continuidade de remakes de clássicos. Entretanto, um comunicado interno divulgado ao BBC Brasil indicou que a emissora está revisando sua política de representatividade, embora nenhuma mudança concreta tenha sido anunciada até o momento.

Em suma, o fim de Vale Tudo deixa lições sobre o equilíbrio entre homenagem a obras consagradas e a urgência de refletir a sociedade brasileira atual.

Principais fatos

Principais fatos

  • Remake exibido de 5 de julho a 17 de outubro de 2025.
  • Roteiro escrito por Manuela Dias; direção de arte por Paulo Silvestrini.
  • Personagem Raquel, interpretada por Taís Araújo, recebeu críticas por falta de desenvolvimento.
  • Queda de audiência de 26 para 14 pontos nos últimos episódios.
  • Receita publicitária estimada em R$ 34 milhões.

Perguntas Frequentes

Por que a personagem Raquel foi tão diminuída na trama?

Segundo jornalistas da Veja, a roteirista Manuela Dias teria reduzido o arco da personagem após críticas da própria atriz, evitando cenas que mostrariam sua ascensão social. O corte de episódios-chave retirou momentos que poderiam ter reforçado a narrativa de empoderamento negro.

Qual foi o impacto da polêmica na audiência da novela?

A média de pontos caiu de 26 para 14 nos últimos quatro capítulos, segundo dados da Kantar IBOPE Media. Embora a receita publicitária tenha permanecido alta, a queda indica que o público perdeu o interesse diante das controvérsias.

Taís Araújo pretende voltar à TV aberta?

A atriz declarou que vai se concentrar em cinema independente e em séries de plataformas de streaming, citando a necessidade de "espaço para narrativas negras". Ela não descartou a possibilidade de futuros trabalhos na TV, mas apenas fora da Globo.

Quais foram as defesas feitas sobre a produção?

Críticos elogiaram a atuação de Alexandre Nero (Marco Aurélio) e Débora Bloch (Odete Roitman), bem como a direção de arte de Paulo Silvestrini, que trouxe cenários luxuosos ao Rio de Janeiro. Esses elementos foram apontados como os poucos pontos positivos da novela.

O que a Globo pode fazer para melhorar a representatividade?

Especialistas sugerem a criação de painéis de diversidade já na fase de escrita, contratação de roteiristas negros em cargos de liderança e a revisão de decisões de corte que marginalizam personagens de minorias. Uma política mais transparente poderia evitar episódios semelhantes.

Escrito por Edson Cueva Araujo

Sou especialista em notícias e adoro escrever sobre os acontecimentos diários do Brasil. Meu trabalho é trazer informações relevantes para o público, sempre com uma abordagem objetiva e clara. Trabalho como jornalista há mais de 15 anos e continuo apaixonado pelo que faço. Acredito que a boa informação é essencial para uma sociedade bem informada.

Ver todas as postagens de: Edson Cueva Araujo

6 Comments

  • Image placeholder

    Camila A. S. Vargas

    outubro 19, 2025 AT 00:30

    Prezados leitores, é evidente que o debate sobre a representatividade na televisão merece ser conduzido com seriedade e otimismo. A iniciativa de trazer uma personagem negra para o centro da trama foi, sem dúvida, um passo significativo rumo à inclusão. Apesar das falhas apontadas, devemos reconhecer o esforço da produção e encorajar futuras adaptações a aprofundar ainda mais essas narrativas. Continuemos a apoiar projetos que valorizem a diversidade de forma consistente.

  • Image placeholder

    Marcos Stedile

    outubro 19, 2025 AT 02:10

    Olha só, mano... o que tá acontecendo aí? Tão querendo nos fazer crer que foi só um erro de roteiro, mas na real tem coisa mais sinistra por trás!!! Eles tão manipulando a audiência, cortando cenas pra esconder a verdade, e a mídia nem dá as caras. Vê se não caímos nessa jogada, porque se for só "ponto de audiência", quem tá lucrando mesmo??

  • Image placeholder

    Renato Mendes

    outubro 19, 2025 AT 03:50

    E aí galera, alguém mais viu como a série acabou deixando a Raquel meio de lado? Acho que dá pra imaginar um caminho diferente, onde ela teria mais protagonismo. Vamos torcer pra que as próximas produções aprendam com esse deslize e colocam personagens negros em papéis de verdade.

  • Image placeholder

    Glauce Rodriguez

    outubro 19, 2025 AT 05:30

    Permitam-me registrar, com a devida firmeza, que as críticas direcionadas ao remake de “Vale Tudo” carecem de fundamento substancial. O conteúdo foi elaborado dentro dos parâmetros criativos estabelecidos, e as decisões narrativas refletem uma análise cuidadosa do público-alvo. Atentar-se apenas às supostas omissões raciais equivale a uma leitura superficial e tendenciosa da obra.

  • Image placeholder

    Daniel Oliveira

    outubro 19, 2025 AT 07:10

    É forçoso admitir que a crítica feroz dirigida à novela tem raízes em expectativas irrealistas e, sobretudo, em uma concepção equivocada do que constitui progresso cultural. Ao analisar os episódios finais, observa‑se que a estrutura dramática manteve coerência interna, mesmo que certos arcos de personagem tenham sido abreviados. A produção, sob a liderança de Manuela Dias, optou por priorizar um ritmo narrativo que atendesse à demanda de audiência, equilibrando momentos de introspecção com cenas de alta tensão. Essa escolha, embora contestável para alguns, não pode ser desmerecida como mero ato de racismo institucional. A personagem Raquel, interpretada por Taís Araújo, foi inserida em contextos que, embora menos centrais, ainda oferecem nuances de desenvolvimento pessoal. Ademais, o corte de determinadas subtramas resultou em uma economia de tempo de tela que favoreceu a progressão de outras linhas argumentativas. O público, ao se deparar com a redução de presença da protagonista, pode interpretar tal movimento como uma simplificação da trama, porém, tais decisões são inerentes ao processo de edição televisiva. Não se pode ignorar que o índice de audiência, ainda que em queda, manteve níveis lucrativos para a emissora, indicando que a estratégia cumpriu objetivos mercadológicos. A crítica que aponta “racismo estrutural” carece, portanto, de uma análise aprofundada das métricas de consumo e do feedback qualitativo dos telespectadores. Além disso, a crítica constante gera um clima de intolerância que tolhe a liberdade criativa dos autores. Quando se levanta a hipótese de que a diminuição da protagonista seria resultado de um preconceito latente, deve‑se considerar também a influência de fatores como o ritmo de produção e as restrições orçamentárias. Em suma, a controvérsia em torno da novela se revela mais complexa que uma simples alegação de exclusão racial, envolvendo variáveis de mercado, decisões artísticas e expectativas do público. Portanto, é essencial ponderar esses elementos antes de rotular a obra como um fracasso moral. A discussão deve permanecer aberta, porém, ancorada em dados concretos e não em conjecturas inflamadas. Por fim, que possamos cultivar um diálogo que promova tanto a excelência artística quanto a representatividade efetiva, sem sacrificar a integridade da narrativa.

  • Image placeholder

    Bianca Alves

    outubro 19, 2025 AT 08:50

    Interessante observar como a estética visual da novela recebeu elogios, enquanto a trama foi alvo de críticas. A elegância dos cenários merece reconhecimento 🌟, porém, a falta de profundidade nos personagens deixa a desejar. 🤔

Escreva um comentário